A Amoreira e a Cerdeira
Também tinham o que falar,
Murmuravam de baixinho
Dialogavam sem cessar!...
-Tanta paulada que levo
Que não dá para descansar,
As crianças da escola
Vêm todas mendigar!…
Há dias que pão não comem
Para a fome saciar,
Largam as brincadeiras
Para nos virem espancar!...
Ó Cerdeira ! tu não sabes?
As feridas que eu já causei,
Tantas cabeças abertas,
Tanto sangue derramei!...
Muita criança já vi,
Todas elas adorei!
As pancadas que me deram
Foram carinhos que troquei!...
Se me dissessem um dia
Que eu iria descansar,
É certo que não sabia
Que esse dia ia chegar!...
Dizia então a Cerdeira
Prá amoreira do largo:
-Não te queixes sorrateira,
Que o meu dia vai chegar
Já vejo até o machado
Com que me vão derrubar!...
Estes brincos de princesa
Que ajudei a colocar,
Eram crianças humildes
Querendo-me cumprimentar!...
Esta árvore já cansada
De tanto fruto criar,
É certo que estou no fim,
Os meus dias vão findar!..